Bem-vindo(a) ao Portal Escrivão Caminha! Explore os nossos blogs , vote em nossos textos e escreva para nós.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

O que é que Deus disse



por Walter Dos Santos*

Nunca vou me esquecer aquela história do homem que encontrou a Bíblia no lixo. Não me lembro a data, mas foi num domingo pela manhã entre os anos de 2004 a 2006 em que eu a ouvi. Eu era membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia Central de Brasília, mas frequentava todos os domingos pela manhã a Igreja Batista Memorial de Brasília. Como precisava melhorar o inglês (e ainda preciso), comecei indo por causa da Sunday School que era oferecida ali. Mas aproveitava e ficava para ouvir o sermão do culto dominical matutino.

Foi quando num destes cultos apareceram os Gideões Internacionais e um deles tomou a palavra antes do sermão do pastor local. Para quem não sabe, os Gideões são responsáveis pela entrega de Novos Testamentos em escolas, hospitais e hotéis. Entre as formas de financiamento da sua obra de evangelismo, eles percorrem as igrejas evangélicas, divulgam o seu trabalho e recolhem ofertas ao final do culto.

Pois o gideão contou a história de um lixeiro. Sim, um lixeiro. Num dia de trabalho comum, aconteceu algo inusitado em sua vida. Ao recolher os sacos de lixo para jogar no caminhão, ele percebeu que uma folha de papel havia caído de um dos sacos. Era apenas um fragmento rasgado de uma página da Bíblia, e continha apenas uma frase capaz de ser lida: “E disse Deus”.

Este único verso ficou martelando na cabeça daquele lixeiro e ele passou aquele dia e os próximos perguntando a si mesmo e a outras pessoas: “O que é que Deus disse?” Nenhum de seus colegas ou parentes sabia responder à pergunta, mas um homem disse que um “crente” saberia a reposta. No próximo domingo, ele procurou uma igreja evangélica perto de sua casa, contou a sua história a um dos membros e fez então a pergunta: “O que é que Deus disse?”.

O pastor e os membros daquela congregação lhe apresentaram Jesus Cristo como Salvador pessoal e lhe deram uma Bíblia, para que ele mesmo pudesse ler o que Deus disse em Sua Palavra. Semanas depois, ele foi batizado junto com a sua família.

QUEM É QUE USA QUEM?



Trouxe esta história à tona ao conversar com um amigo adventista sobre evangelismo. Segundo ele, o trabalho de entregar um jornal, folheto, revista para alguém dependia da relação do entregador com o Espírito Santo. Com Ele guiando essa entrega, ele dizia, o trabalho era um meio em que Deus operava. Sem o Espirito Santo, era mera planfetagem.

Mas “o que é que Deus disse” sobre a nossa tarefa de pregar o evangelho? "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado" — Marcos 16:15-16. Não há condições, nem ressalvas, nem pré-requisitos nessa ordem dada por nosso Salvador. Na ocasião, levantei algumas perguntas para o meu amigo:

Quem toca o coração dos perdidos e recebe a glória pela salvação dos homens: nós, pecadores indignos, ou o Deus Soberano do Universo???

Se Deus pode usar páginas rasgadas para alcançar as pessoas, por que Ele não pode nos usar???

Por que a bênção e a direção de Deus concedidas no momento em que a Bíblia foi produzida, o sermão foi gravado e o folheto escrito se perderiam nas mãos de um distribuidor "sem o Espírito Santo"???

Deus é menos poderoso na entrega da mensagem do que na produção da mensagem???

Em outras palavras: panfletagem de folhetos e revistas evangelísticos feita por uma pessoa com ou sem o Espírito Santo é evangelismo do mesmo jeito. Não estou dizendo que o Espírito Santo é dispensável, nem que não devemos buscá-Lo. É claro que um entregador de folhetos que se submete ao Espírito Santo será mais eficaz no trabalho evangelístico. Não por que essa submissão em si tornaria os folhetos e revistas mais frutíferos ou mais poderosos no evangelismo. Mas porque a pessoa seria um instrumento ADICIONAL e COMPLEMENTAR ao folheto para que o Espírito Santo pudesse alcançar a pessoa que recebe o material.

Devemos fugir de dois extremos igualmente errados e perigosos. O primeiro é CONFIAR demais em nossos esforços humanos para alcançar as pessoas para Jesus — dom da oratória, escrita eficaz, conhecimento bíblico, técnicas de persuasão, métodos evangelísticos, recursos tecnológicos, experiência de trabalho, etc. SEM o Espírito Santo a dirigir o processo, todos estes esforços serão INÚTEIS, resultando apenas em pecadores informados sobre o plano da salvação. E, é claro, tão condenados ao inferno, sem Deus e sem esperança no mundo quanto antes de nossos esforços para alcançá-los.

O segundo extremo é DESconfiar demais de nossos esforços humanos para alcançar as pessoas para Jesus — dom da oratória, escrita eficaz, conhecimento bíblico, técnicas de persuasão, métodos evangelísticos, recursos tecnológicos, experiência de trabalho, etc. COM o Espírito Santo a dirigir o processo, todos estes esforços serão MAXIMIZADOS, resultando em almas ganhas para o Reino de Deus. Precisamos resgatar pecadores, pelos mais diferentes meios possíveis, "para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em Mim [Jesus]" — Atos 26:18.

MENOS EXPERIÊNCIA, POR FAVOR

Com este segundo extremo, o astuto Satanás virou em 180 graus a mentalidade evangelística da igreja contemporânea. Hoje muitas pessoas falam MAIS que no passado de temas como o amor incondicional de Deus, uma experiência pessoal com o Senhor, a leitura devocional da Bíblia, um culto com menos liturgia e mais adoração (???), a necessidade do Espírito Santo, etc. Em compensação, estas mesmas pessoas vivem MENOS do que no passado a maioria destas coisas nas diversas igrejas. Não só no meio adventista e outras igrejas tradicionais, mas também (e especialmente) nas diversas igrejas pentecostais e renovadas. Mais pessoas se batizam e menos pessoas se convertem, mais pessoas andam pelos corredores dos templos e menos pessoas andam em novidade de vida, mais tempo é dedicado a música e a sermões existenciais e menos tempo é dedicado ao estudo da Bíblia e à oração, mais jovens são conquistados para a igreja e menos jovens participam ativamente dela.

Hoje, a busca por uma experiência cristã mais genuína (e isto significa 25 coisas para cada grupo de 30 pessoas) é tão intensa e tão elevada que chega a ser fantasiosa. As várias comunidades religiosas cristãs e não cristãs possuem alvos fixos para onde buscar o grau máximo de experiência religiosa: o nirvana, a vida monástica, o falar em línguas estranhas. Não saberia falar de outras comunidades de fé, mas posso falar do meu lar espiritual na família de Deus — a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Como os adventistas não têm em sua espiritualidade e teologia nenhum ponto de chegada tão claro para ser buscado pelos membros da denominação, cada um vai buscando uma coisa: êxtase musical no culto, vegetarianismo total, reforma do vestuário, conhecimento em detalhes das profecias, leitura integral dos livros de Ellen White, uma vida cheia de milagres e orações atendidas, o repensar da igreja rumo a uma comunidade semi-hippie de amor fraternal, etc. Não posso esquecer do mais novo (ou será semi-novo?) alvo proposto pelos livros de Jim Hohnberger: “fugir para Deus, buscando uma vida plena de poder".

Veja bem: não estou dizendo que estes alvos não devam ser buscados. Os adventistas do sétimo dia cremos na certeza da salvação e vida eterna em Jesus, mas cremos também que somos chamados a ser um povo piedoso que pensa, sente e age de acordo com os princípios do Céu. Nada há de errado em usar as disciplinas e alvos espirituais que mencionei para buscar este ideal de uma vida cristã mais abundante e rica em nosso preparo para a volta de Cristo. O problema é que enquanto o ideal não chega, não fazemos o real: alcançar os perdidos que estão fora e conservar os irmãos que estão dentro.

Isto acontece devido a uma má compreeensão da vida cristã. Ok, o modelo a que somos chamados a imitar não é o homem ou mulher ao nosso redor, mas o Filho de Deus. Reconheço (em mim mesmo) que, comparados a Ele, ainda não somos nem estamos dignos, amorosos, santos, verdadeiros, espontâneos, prontos, sinceros, convertidos, conhecedores, desapegados, preparados, revestidos, espirituais, santificados o suficiente que devemos poderíamos ser e estar.

Mas devemos olhar não para nós, mas para Jesus; não para uma experiência a ser alcançada no futuro, mas para a obra completada no passado na cruz; não para nossas próprias obras para Deus, mas para as obras de Deus feitas por nós. Pois fomos alcançados pela graça "que Ele nos concedeu gratuitamente no Amado [Jesus], no qual temos a redenção, pelo Seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da Sua graça, que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência" — Efésios 1:6-8.

Será que nos julgamos menos inteligentes do que a jumenta de Balaão para que Deus possa falar por nós? Por acaso somos mais duros do que as pedras mencionadas por Jesus para clamar em favor de nosso Rei?

Paremos de dar ouvidos às mentiras do Inimigo de Deus e ouçamos a voz de Quem quer nos usar para avançarmos o Reino de Deus na terra e apressarmos o dia da volta de Jesus. "Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor e a nós mesmos como vossos servos, por amor de Jesus. Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, Ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo. Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós". — 2 Coríntios 4:5-7.

*Walter Dos Santos é um jornalista apaixonado por Cristo e pela literatura que mantém o Portal Escrivão Caminha (escrivaocaminha.blogspot.com). A reprodução deste texto é autorizada desde que seja mencionado este crédito.
Share/Save

Seja o primeiro a comentar

Related Posts with Thumbnails

  ©Template by Dicas Blogger.

TOPO