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quinta-feira, 26 de março de 2009

Os outros filhos de Maria


A virgindade da mãe de Jesus é um dos assuntos espinhosos no meio cristão. Por um lado existe o dogma católico de que Maria foi sempre virgem, mesmo após o nascimento de Jesus. Por outro, a evidência contrária presente no relato claro e simples dos Evangelhos.

Os Evangelhos nos dizem que José não conheceu (isto é, não manteve relações sexuais com) Maria até Jesus nascer (Mateus 1:25). Isto indica que, após o nascimento de Jesus, José passou a ter relações com a esposa. De maneira alguma isto denigre o caráter ou a espiritualidade da bendita mãe de Jesus, pois “o casamento deve ser honrado por todos; o leito conjugal, conservado puro" (Hebreus 13:4). As Escrituras aprovam e incentivam o prazer sexual, dentro do casamento, como um dom de Deus aos casais (ver Provérbios 5:15-20, Cantares 2:3-7 e 4:9-12, Isaías 62:5, 1 Coríntios 7:3-7, Hebreus 13:4).

Segundo os Evangelhos, Maria teve pelo menos seis filhos, sendo 4 filhos homens: Tiago, José, Simão e Judas, e duas filhas mulheres que não são nomeadas (Mateus 13:55-56; Marcos 6:3). Jesus é chamado de “Filho Unigênito de Deus” (João 3:16-18), mas é o filho primogênito de Maria (Lucas 26-7). Cumprindo a profecia messiânica de Salmo 69:8 ("Tornei-me estranho a Meus irmãos e desconhecido aos filhos de Minha mãe"), a relação de Jesus com eles não era a melhor possível. João registra que “nem mesmo os seus irmãos criam nEle” (7:1-5) e Marcos reproduz a opinião dos irmãos de Jesus quanto a Ele: "Ele está fora de si” (Marcos 3:21). Após a ressurreição de Jesus, porém, os irmãos de Jesus O aceitaram como Messias e aguardaram o Pentecostes com a mãe (Atos 1:14). Destes se destaca Tiago, o “irmão do Senhor”, que se tornou uma das colunas da Igreja primitiva (Atos 15:13; 1 Coríntios 15:7, Gálatas 2:9, Tiago 1:1). O autor da carta de Judas, “irmão de Tiago”, é outro filho José e Maria, antes descrente, que se converteu (1:1).

Devido a tentativa acima mencionada de os irmãos de Cristo tentarem controlá-Lo, alguns sustentam que eles eram meio-irmãos de Jesus, órfãos de um casamento anterior do viúvo José. Talvez o registro mais antigo desta tese esteja no Proto-Evangelho de Tiago, um evangelho apócrifo escrito provavelmente em 150 AD. No capítulo 9, verso 2 lemos: "José replicou: — Tenho filhos e sou velho, enquanto que ela é uma menina. Não gostaria de ser objeto de zombaria por parte dos filhos de Israel".

Esta teoria, mantida também pela escritora adventista Ellen White (O Desejado de Todas as Nações, pág. 86-87), é interessante porque preenche algumas lacunas. Como irmãos mais novos poderiam tentar manipular Jesus tal qual acontece nos Evangelhos? Por que Jesus na cruz encarrega João, e não Seus irmãos, de cuidar de Maria? Mas infelizmente levanta mais buracos do que cobre. Se José era viúvo e pai, por que os filhos dele não aparecem nos Evangelhos na viagem para Belém e na fuga para o Egito? Por que o dado da viuvez nunca é mencionado? Por que os irmãos de Jesus surgem de repente na narrativa, após a provável morte de José? Por que eles sempre são mencionados juntos com Maria? Se mais velhos que Jesus e enteados de Maria, por que a relação tão próxima com a madastra?

Além de harmonizar-se com os dados da narrativa dos Evangelhos, a idéia de Maria ter tido outros filhos com José é a possibilidade mais lógica e natural diante dos fatos bíblicos. Alguns argumentam que a palavra "irmão" no hebraico pode significar, entre outras coisas, primo. Contudo o Novo Testamento foi escrito não em hebraico, mas em grego e nesta língua há as palavras adelphos (irmão) e anepsios (primo) Se os evangelistas quisessem se referir a primos, poderiam muito usar a palavra anepsios ,como fez Paulo em Colossenses 4:10.

Em todo caso, podemos extrair algumas lições da família de Jesus: 1) Devemos estar dispostos a cumprir a vontade de Deus em nossa vida sempre, tal qual José e Maria fizeram; 2) O parentesco com alguém fiel a Deus de nada vale se nós não decidirmos por nós mesmos seguir a Jesus; 3) Familiares hoje hostis ao Evangelho podem ser alcançados para a salvação e a glória de Deus. — Walter Dos Santos


por Reinaldo José Lopes
Do G1, em São Paulo

A lista "Tiago, José, Judas e Simão" lhe diz alguma coisa? Uma dica: não são nomes de apóstolos. Na verdade, de acordo com o Evangelho de Marcos, estes seriam os irmãos de Jesus, que são citados ao lado de pelo menos duas irmãs de Cristo (cujos nomes não aparecem). Os católicos e ortodoxos normalmente interpretam o trecho como uma referência a primos ou parentes mais distantes do mestre de Nazaré, mas o mais provável é que essa visão seja incorreta. A maior parte dos (poucos) indícios históricos indica que Maria e José realmente tiveram filhos depois do nascimento de Jesus.

É claro que, sem nenhum acesso a registros familiares contemporâneos ou evidências arqueológicas diretas, a conclusão só pode envolver probabilidades, e não certezas. "Se a busca do 'Jesus histórico' já é difícil, a pesquisa dos 'parentes históricos de Jesus' é quase impossível", escreve o padre e historiador americano John P. Meier no primeiro volume de "Um Judeu Marginal", série de livros (ainda não terminada) sobre Jesus como figura histórica.

Meier explica que, ao longo da tradição cristã, teólogos e comentaristas do texto bíblico se dividiram basicamente entre duas posições, batizadas com expressões em latim. A primeira é a chamada "virginitas ante partum" (virgindade antes do parto), segundo o qual Maria permaneceu virgem até o nascimento de Jesus, tendo filhos biológicos com seu marido José mais tarde. A segunda, "virginitas post partum" (virgindade após o parto), postula que Maria não teve outros filhos e até que seu estado de virgem teria sido milagrosamente restaurado após o único parto.

A "virginitas post partum" foi, durante muito tempo, a posição defendida por quase todos os cristãos, diz o historiador -- até pelos protestantes, que hoje não se apegam a esse dogma. "Um fato surpreendente, e que muitos católicos e protestantes hoje em dia desconhecem, é que as grandes figuras da Reforma, como Martinho Lutero e Calvino, defendiam a virgindade perpétua de Maria", escreve ele. Já especialistas católicos modernos, como o alemão Rudolf Pesch, defendem que Maria provavelmente teve outros filhos sem que isso tenha levado a reprimendas diretas do Vaticano.

Jerônimo


Diante das menções claras aos "irmãos e irmãs de Jesus" nos Evangelhos (que inclusive se mostram contrários à pregação dele, chegando mesmo a considerá-lo louco), como a interpretação da "virginitas post partum" prevaleceu?

"Houve três formas de interpretar esses textos", afirma o americano Thomas Sheehan, estudioso do cristianismo primitivo e professor da Universidade Stanford. "Além de considerar essas pessoas como irmãos biológicos de Jesus, sabemos da posição de Epifânio, bispo do século IV para quem os irmãos eram de um casamento anterior de José. Mas a opinião que prevaleceu foi a de Jerônimo, que era um excelente filólogo [especialista no estudo comparativo de idiomas] e viveu na mesma época. Jerônimo dizia que a palavra grega 'adelphos', que nós traduzimos como 'irmão', era só uma versão de um termo aramaico que pode ter um significado mais amplo e que pode querer dizer, por exemplo, primo."

Jerônimo tinha razão num ponto: quando o Antigo Testamento foi traduzido do hebraico para o grego, a palavra "adelphos" realmente foi usada para representar o termo genérico "irmão" (empregado para parentes mais distantes no original). De fato, o hebraico, bem como o aramaico (língua falada pelos judeus do tempo de Jesus na terra de Israel), não tem uma palavra para "primo". O problema é que há um único caso comprovado de que a palavra hebraica "irmão" tenha tido o significado real de "primo". Essa única ocorrência está no Primeiro Livro das Crônicas -- e mesmo assim o contexto deixa claro que as pessoas em questão não são irmãs, mas primas.

No entanto, o caso do Novo Testamento é diferente, argumenta Meier: não se trata de "grego de tradução", mas de textos originalmente escritos em grego, nos quais não havia motivo para usar um termo que poderia gerar confusão. O próprio Paulo, autor de várias cartas do Novo Testamento, chama Tiago, chefe da comunidade cristã de Jerusalém após a morte de Jesus, de "irmão do Senhor", ao escrever para fiéis de origem não-judaica (ou seja, que não sabiam hebraico ou aramaico). De quebra, a Carta aos Colossenses, atribuída a Paulo, usa até o termo grego "anepsios", que quer dizer "primo" de forma precisa.

Reforçando esse argumento, o escritor judeu Flávio Josefo, ao relatar em grego a morte de Tiago, também o chama de "irmão de Jesus". E o contexto dos Evangelhos reforça a impressão de que se tratam de irmãos de sangue, argumenta Meier. Os irmãos e a mãe de Jesus são sempre citados em conjunto. Quando Maria e os parentes de Jesus tentam interromper uma pregação, ele chega a pronunciar a polêmica frase "Qualquer um que fizer a vontade do meu Pai celestial é meu irmão, minha irmã e minha mãe". Para Meier, a frase perderia muito de sua força se o significado real dela se referisse a "meu primo, minha prima e minha mãe".

Para Geza Vermes, professor de estudos judaicos da Universidade de Oxford (Reino Unido), as próprias narrativas sobre o nascimento de Jesus dão apoio a tese de que Maria e José tiveram outros filhos mais tarde. No Evangelho de Mateus, afirma-se que José não "conheceu" (eufemismo para ter relações sexuais com alguém) sua mulher até que Jesus nascesse. Ainda de acordo com Vermes, em seu livro "Natividade", é importante notar o uso do verbo grego "synerchesthai", ou "coabitar", para falar da relação entre José e Maria. O verbo, quando empregado pelos autores do Novo Testamento, implica sempre relações sexuais entre homem e mulher, diz ele.

Título original da matéria: Maria provavelmente teve outros filhos além de Jesus, dizem historiadores
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