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domingo, 24 de outubro de 2010

Conheça Goiânia, minha cidade natal

Bosque dos Buritis, com o jato d'água mais alto da América do Sul.
por Walter Mendes*

Minha cidade natal faz aniversário hoje: 77 anos. Foi fundada em 24 de outubro de1933 pelo então governador Pedro Ludovico Teixeira para ser a nova Capital do estado de Goiás. É a 13ª cidade brasileira em população (cerca de 1,3 milhão de habitantes, 2 milhões na região metropolitana), a 6ª em tamanho (com 256,8 km2) e a 2ª em qualidade de vida (só perde para Curitiba).

Eu gosto de Goiânia, entre outras razões, porque foi planejada para ser uma cidade-jardim, privilegiando a vegetação. (Conheça alguns do parques, prédios e monumentos goianienses nos vídeos inseridos nesse texto.) É considerada a cidade mais arborizada do Brasil (com 30% de vegetação, ou 95 m2 de área verde por habitante) e a segundo do mundo pela ONU (a primeira é Edmonton, no Canadá). Está situada no bioma do Cerrado, um espaço vegetal caracterizado por extensas formações de savana, atravessada por matas de galeria e vales fluviais. O Cerrado inclui vários tipos de vegetação: os ipês (roxo, amarelo e rosa) e os "flamboyants" são as árvores mais bonitas da minha cidade natal. Há muitos parques no espaço urbano, ao lado de edifícios e shoppings, como o Vaca Brava, o Zoológico, o Areião e o Buritis, onde as pessoas podem apreciar a paisagem verde, caminhar e correr e passear com a família e amigos. O clima é tropical semi-úmido, com temperatura média de 22°C e extremos de 13º C em julho e de 32º C em setembro. Há uma estação chuvosa, de outubro a abril, e uma seca, de maio a setembro. Isso traz uma qualidade invejável de vida e um belo espaço urbano para os habitantes e os seus turistas.

Leandro e Leonardo - Rumo a Goiânia

 Fachada da antiga Estação Ferroviária.

Outra coisa que impressiona na minha cidade natal é a sua concepção arquitetônica e design espacial. Muitos dos primeiros edifícios foram construídos no estilo "art déco", como o Teatro Goiânia e a antiga Estação Ferroviária, e que dão à cidade um charme todo especial. Ela impressiona também pelas formas geométricas das ruas e praças. Por exemplo, as ruas do Centro da cidade foram planejadas em forma de um raio, com a Praça Cívica no centro – na qual ficam as sedes do governo estadual e municipal: Palácio de Esmeraldas e do Palácio de Campinas, respectivamente. A Praça Cívica forma a cabeça de um triângulo, com três vias (Araguaia, Tocantins e Paranaíba, os rios mais importantes do estado) como seus lados – em conjunto os quatro elementos lembram o manto da santa católica Nossa Senhora Aparecida. O conjunto de prédios, monumentos e o centro original da cidade é considerado um dos mais importantes do Brasil e foram reconhecidos pelo Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico.

A História de Goiânia começa no período colonial, quando começaram as primeiras idéias de transferência da capital de Goiás (antes, a capital era a Cidade de Goiás, originalmente chamada Vila Boa). O ímpeto por trás dos esforços para mudar a capital do estado foi a necessidade de localizá-la em conformidade com os interesses econômicos do Estado, já que a antiga capital não estava no caminho da agricultura em expansão. Goiás, cidade e estado, nasceram no contexto da extração do ouro no Período Colonial. Com a decadência do período áureo, a agricultura tomou o lugar como a principal atividade no estado. E a antiga capital não acompanhava os rumos da nova economia.

Parte da Avenida Goiás, no Centro.
Legisladores mantiveram viva a ideia da mudança por longo tempo, mas só em 1930 o projeto de transferência da Capital tornou-se realidade com Pedro Ludovico Teixeira, o novo governador nomeado pela ditadura Vargas. Em 1933, uma comissão formada para a nova Capital decidiu a localização atual e a pedra fundamental foi lançada, num gesto simbólico que marcou a fundação da nova cidade em 24 de outubro por Pedro Ludovico Teixeira. Em 1937 foi assinado um decreto transferindo a capital do Estado da Cidade de Goiás para Goiânia e em 1942 ocorreu a inauguração oficial, com a presença do presidente da República, governadores de estado e ministros.

O nome de Goiânia surgiu em 1933 após um concurso realizado por um jornal local da nova cidade. Leitores de todo o estado contribuíram com vários nomes, sendo estes alguns dos mais votados: Petrônia, Americana, Petrolândia, Goianópolis, Goiânia, Bartolomeu Bueno, Campanha, Eldorado, Anhanguera, Liberdade, Goianésia, e Pátria Nova, entre outros. Em 1935, Pedro Ludovico Teixeira usou o nome de Goiânia pela primeira vez na assinatura de um decreto criando o município.

Ivan Lins – Goiânia, Querida Goiânia

A Capital goiana possui uma variedade de indústrias, embora as raízes da economia local sejam encontrados principalmente na agricultura em torno da cidade. As principais outras atividades econômicas incluem a venda de veículos, o setor de serviços, a indústria de confecções, o setor governamental (por ser a Capital do estado), a organização de eventos nacionais e congressos (devido à sua localização no centro do país) e os centros e clínicas médicos privados de todos os tipos.

Parque Vaca Brava.
Goiânia, no entanto, não é o Jardim do Éden, se bem que Adão viveu em minha cidade natal antes de ser expulso do Paraíso! (rsrsrs). Embora o centro e os bairros nobres da cidade tenham sido planejados e tenham uma excelente estrutura urbana, o crescimento desordenado das regiões periféricas trouxe problemas tais como um crescente aumento do tráfego de veículos no centro e a falta de serviços e a violência em alguns bairros. Preciso mencionar também um leque ainda pequeno de atividades culturais diversificadas (nos cenários musical e teatral especialmente) e pouco espaço profissional para o desenvolvimento de carreiras fora e além dos grandes ramos da economia local. Porém, Goiânia ainda é um lugar agradável para se viver, juntando oportunidades e benefícios dos grandes centros urbanos e a qualidade de vida das pequenas cidades.

*Walter Mendes é um jornalista apaixonado por Cristo e pela literatura que mantém o Portal Escrivão Caminha (escrivaocaminha.blogspot.com). A reprodução deste texto é autorizada desde que seja mencionado este crédito.

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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Não confunda o evangelho com a política

por Walter Dos Santos* 

Quando o pastor da 1ª Igreja Batista de Curitiba Paschoal Piragibe Jr. ligou a tese da "iniquidade institucionalizada" com a aprovação legal do aborto e do casamento gay, muitos cristãos evangélicos progressistas levantaram-se contra essa associação. Segundo vários desses oponentes, o pastor foi omisso e limitado ao não reconhecer pecados profundamente enraizados no Brasil como a questão previdenciária, a criação da CPMF, o sistema público de saúde, o acúmulo de terras etc. 

Como podemos identificar facilmente, tais críticos afirmam que tanto essas questões sociais citadas quanto aqueles temas morais listadas pelo pastor contribuem para a iniquidade em nosso país. Neste artigo pretendemos apresentar um breve panorama do cristianismo engajado por trás dessa visão e analisar o ensino bíblico sobre a responsabilidade social da Igreja. 

Evangelho Social e Teologia da Prosperidade 


As críticas levantadas contra o pronunciamento do Pr. Piragibe Jr. por esse setor da igreja evangélica brasileira refletem o ideário do Evangelho Social, movimento protestante surgido e desenvolvido nos Estados Unidos de 1880 a 1930. Devido à crise urbana ocasionada pelo crescimento econômico pós Guerra Civil, muitos trabalhadores e imigrantes viviam nos cortiços das grandes cidades e sofriam uma grave situação de abandono e exclusão. Em resposta, vários crentes americanos moveram compaixão e esforços em favor deles e formularam conceitos como “a implantação do reino de Deus na Terra”, a importância de uma “sociedade redimida” e o papel da ação social como parte da missão da Igreja. 

O pastor e professor de seminário batista Walter Rauschenbusch (1861-1918) foi o principal articulador teórico do movimento, com livros como O Cristianismo e a Crise Social, Cristianizando a Ordem Social e Uma Teologia para o Evangelho Social. Mas o Evangelho Social alcançou popularidade e expansão sem precedentes com a publicação do livro Em Seus Passos que Faria Jesus? (1897), best-seller escrito pelo pastor congregacional Charles Sheldon. Na obra, um pastor vive uma vida confortável e sem contratempos até o dia em que um homem pobre e necessitado aparece na sua igreja e o leva a rever seus valores, modo de vida e prioridades a partir da questão "O que Jesus faria?". A partir disso, decide propor aos fiéis de sua igreja que se comprometam durante um ano a não fazer nada sem antes perguntar o que Jesus faria na mesma situação. A experiência traz reavivamento e alegria a vários dos paroquianos, bem como renúncias pessoais, conflitos de interesse e choques sociais ao aplicarem o compromisso. 

Nas fileiras católicas, por outro lado, encontraremos a Teologia da Libertação, desenvolvida na América Latina em meados do século 20. Como a região enfrentava um período de grandes tensões políticas, injustiças econômicas e exclusão social, os pensadores católicos articularam uma nova teologia centrada no conceito bíblico de Deus como libertador. Entre as ênfases da Teologia da Libertação podemos citar a visão do reino de Deus numa perspectiva de libertação política e social neste mundo e um forte menosprezo à reflexão e prática cristãs tradicionais devido a seu suposto caráter "alienante" e reacionário.

Igualmente devemos apontar o uso nesse movimento de categorias do pensamento marxista para entender as mazelas da América Latina e o apoio ora ímplicito ora escancarado a movimentos esquerdistas radicais no continente. Embora tenha havido pensadores protestantes na sua formulação, a Teologia da Libertação foi uma iniciativa predominantemente católico-romana. Contudo, setores evangélicos formularam uma alternativa à Teologia da Libertação no conceito de “missão integral” – em que a igreja inclui a ação social como aspecto indispensável de seus esforços missionários. 

Atos não foi um Woodstock comunista 

De onde vêm as bases do discurso dos cristãos que lutam por justiça social? Além do ministério de Cristo em favor dos pobres, os adeptos do cristianismo engajado recorrem ao modelo da igreja primitiva e ao discurso social dos profetas. Alguns leem a vida em comunidade e partilha de bens apresentada em At 2:44-47 e gostam de idealizar a Igreja Primitiva como uma sociedade alternativa, “metade-hippie” e “metade-crente”. Muitos vão ao extremo de afirmar que essa foi uma experiência socialista/marxista na História da Igreja. Nada mais distante dos fatos. A comunidade cristã primeva era tão complexa em sua dinâmica interna quanto a igreja moderna: extremamente liberal para os conservadores, extremamente conservadora para os liberais. Peço a licença de citar dois parágrafos do livro Cristianismo Puro e Simples, de C.S. Lewis, pág. 31:
"Do mesmo modo, o Novo Testamento, sem entrar em detalhes, nos pinta um quadro bastante claro do que seria uma sociedade plenamente cristã. Talvez exija de nós mais do que estamos dispostos a dar. Informa-nos que, nessa sociedade, não há lugar para parasitas ou passageiros clandestinos: aquele que não trabalhar não deve comer. Cada qual deve trabalhar com suas próprias mãos e, mais ainda, o trabalho de cada qual deve dar frutos bons: não se devem produzir artigos tolos e supérfluos, nem, muito menos, uma publicidade ainda mais tola para nos persuadir a adquiri-los. Não há lugar para a ostentação, pata a fanfarronice nem para quem queira empinar o nariz. Nesse sentido, uma sociedade crista seria o que se chama hoje em dia "de esquerda". 
"Por outro lado, ela insiste na obediência — na obediência (acompanhada de sinais exteriores de reverência) de todos nós para com os magistrados legitimamente constituídos, dos filhos para com os pais e (acho que esta parte não será muito popular) das esposas para com os maridos. (...) Se existisse uma sociedade assim e nós a visitássemos, creio que sairíamos de lá com uma impressão curiosa. Teríamos a sensação de que sua vida econômica seria bastante socialista e, nesse sentido, "avançada", mas sua vida familiar e seu código de boas maneiras seriam, ao contrário, bastante antiquados — talvez até cerimoniosos e aristocráticos. Cada um de nós apreciaria um aspecto dela, mas poucos a apreciariam por inteiro. Isso é o que se deve esperar de um cristianismo como projeto integral para o mecanismo da sociedade humana."
O Antigo Israel não é a Igreja 

Outra pretensa base para os adeptos e simpatizantes do Evangelho Social e da Teologia da Libertação é o discurso social dos profetas do Antigo Testamento contra a acumulação de terras, a justiça corrompida e a opressão social. Mas essa leitura ignora completamente o contexto histórico e o propósito original das mensagens dos profetas do do Antigo Testamento. 

Primeiramente, o Antigo Israel não pode ser confundido com a Igreja. Os israelitas eram um povo nacional distinto que vivia sob uma teocracia, com instituições e leis civis direta ou indiretamente apontadas por Deus na lei mosaica. Quando os profetas condenavam os abusos sociais do povo eleito, eles condenavam desvios de uma “constituição” outorgada por Deus e entregue a governantes, juízes e sacerdotes responsáveis por fazer cumpri-la. 

O Senhor Jeová havia concedido à nação israelita tanto os mandamentos contra o adultério e assassinato (morais) quanto as leis contra o acúmulo de terras e a opressão do estrangeiro e do órfão (sociais). Quebrar tanto estas quanto aquelas era pecado, pois constituía rebelião contra uma ordem moral e social expressamente revelada por Deus. Não é este o caso dos cristãos do Novo Testamento em diante, um grupo multicultural e multi-étnico que vive em regimes políticos e sociais os mais diferentes, com governo, instituições e leis criados sem uma revelação direta da parte de Deus. 

Dois fatos comprovam essa tese, retirando o embasamento dos cristãos modernos que se apoiam no discurso social do Antigo Testamento. Primeiro, os profetas condenavam tanto os crimes sociais quanto os morais do povo judeu, mas apenas os desvios morais dos povos pagãos ao redor de Israel. Nenhum profeta maior ou menor condena a acumulação de terras, a justiça corrompida e a opressão social dos assírios, egípcios, babilônios ou filisteus. 

Segundo, o mesmo padrão de dupla moralidade se repete nas páginas do Novo Testamento. Paulo condena a devassidão moral de pagãos, judeus e cristãos igualmente (Rm 1-3; 1Co 5, 10); mas propõe normas de ética social apenas à comunidade dos crentes (Rm 12-14; 1Co 6-8). Tiago é, sem sombra de dúvidas, o escritor com o discurso social mais enfático do Novo Testamento. Suas reprovações, porém, contra a discriminação social (Tg 2) e o enriquecimento ilícito pela opressão dos trabalhadores são dirigidas aos crentes em Jesus (Tg 5). Pedro ordena a todos os crentes que se submetam às autoridades e, fazendo o bem, suportem as provações e calem os adversários pela prática do bem (1Pe 2-3). 

Quatro verdades esquecidas 

Isso significa então que a Igreja deve ignorar o sofrimento e a desigualdade no mundo, sem nada fazer para melhorar a condição das pessoas? Não, de maneira nenhuma! Os defensores e simpatizantes do Evangelho Social e da Teologia da Libertação incluem cristãos sinceros e comprometidos com a melhoria e ascensão das classes menos favorecidas. Contudo, o ensino de ambos os Testamentos apresenta conceitos e ênfases diferentes das formuladas pelos assim chamados Evangelho Social e Teologia da Libertação.

Primeiramente, a Palavra de Deus coloca uma forte ênfase nas questões morais e não nas sociais. Usando jargões esquerdistas, podemos atrever a dizer que ela é bastante "direitista, conservadora, burguesa, retrógrada e reacionária", para o desgosto de muitos dos partidários do Evangelho Social e da Teologia da Libertação – dentro e fora da Igreja. Com isso não queremos dizer que a mensagem bíblica é elitista ou que defenda as propostas daqueles que se encaixam nesses rótulos. Apenas queremos enfatizar que os valores bíblicos identificam-se mais com os ditos valores burgueses do que com os valores normalmente defendidos por socialistas e comunistas.

Se lermos ainda que superficialmente os Dez Mandamentos (Ex 20), o Sermão do Monte (Mt 5), a profecia sobre a condição social nos últimos dias (2Tm 3:1-9) e as listas de vícios no Novo Testamento (1Co 6:9-11; Gl 5:19-21; Ap 22:14-15), observaremos rapidamente que a Lei Moral de Deus condena explicita, demorada e repetidamente os crimes e pecados contra a honestidade, a vida humana, a propriedade privada, a moderação pessoal, a ordem social e o casamento heterosssexual.

Em segundo lugar, a Bíblia é enfática ao apresentar a natureza má e pecaminosa do ser humano, não necessariamente do sistema sócio-político em que ele vive (Jó 14:4; Pv 20:9; Sl 51:5; Is 64:6; Je 17:9; Mt 15:19; Rm 7:14-20; 8:5-8). Desta maneira, qualquer tentativa de melhorar as condições de uma determinada sociedade precisa passar necessariamente pelo chamado individual ao arrependimento (At 3:19; 5:30-31; Rm 2:4) e conversão a Jesus Cristo (Ez 18:30-32; At 17:30-31). A menos que haja a regeneração sobrenatural do coração por meio da reconciliação com Deus em Cristo (Jo 3:3-8; 8:34-36; Ef 2:1-5; 2Co 5:17), qualquer tentativa de eliminar a o egoísmo, a corrupção, a desigualdade e o conflito no interior de uma sociedade será provisória e inútil.

Terceiro, a ação de Jesus e Seus apóstolos contraria radicalmente o plano de trabalho proposto pelos simpatizantes do Evangelho Social e da Teologia da Prosperidade. Na tentativa de implementar o Reino de Deus na Terra anunciado pelo Salvador, os defensores de tais propostas apresentam um discurso de mobilização sócio-política em defesa dos excluídos, combate ao sistema institucional opressor e denúncia das injustiças sociais. Escravidão, idolatria, jogos violentos e sanguinários, opressão política, ganância, impostos abusivos, execucões em massa em caso de rebeliões e golpes de Estado eram abusos frequentes dentro das fronteiras do Império Romano. Contudo, nem Jesus nem os Doze empenharam bandeiras, fizeram discursos ou promoveram mobilizações contra as injustiças sociais do Império Romano, embora elas existissem – e existissem numa proporção alarmante. 

Na parábola dos bodes e ovelhas, Jesus elogiou e prometeu entrada no Céu aos que discretamente visitavam os presos, alimentavam os famintos e vestiam os nus (Mt 25:31-46), não aos que usavam a voz em favor deles. Jesus nunca fez nenhuma mobilização ou propôs leis em favor dos excluídos, nem das vítimas dos impostos abusivos dos publicanos, do sistema de saúde precário da Palestina ou da dominação estrangeira feita por Roma. 

Isso não significa, é claro, que a Igreja no Novo Testamento não tivesse preocupação com os infortúnios dos mais frágeis e menos favorecidos na sociedade. Mas isso nos leva ao último ponto de nossa revisão sobre o ensino da Palavra de Deus a esse respeito: em vez de elaborar e proclamar um discurso social, a Igreja é chamada a oferecer uma ação alternativa ao modelo social externo. Os evangelhos mostram que Jesus recebeu, chamou, curou, abençoou e elogiou viúvas e crianças pobres, estrangeiros discriminados e pescadores desassistidos. E mandou Seus seguidores fazerem o mesmo. Ele ilustrou a natureza da verdadeira religião cristã ao contar a parábola do bom samaritano (Lc 10:30-37): não consiste em sistemas, credos ou ritos, mas no cumprimento de atos de amor e genuína bondade, sem distinção de raça, classe social ou confissão religiosa. 

Com ensinos como esse, a comunidade cristã primeva lutou contra a injustiça social no Império Romano durante e depois dos tempos do Novo Testamento diferentemente do que os cristãos de “direita”, “esquerda” ou “centro” fazem hoje. Sem muita teoria e com muita prática. Os primeiros cristãos ofereciam um modelo de sociedade em que os excluídos eram aceitos e bem-recebidos, as diferenças sociais eram apagadas nas interações da comunidade interna e onde escravos e senhores eram irmãos na vida da Igreja. Mais tarde, foram os cristãos que fundaram os primeiros orfanatos, lares para idosos e hospitais no mundo ocidental por valorizarem e acolherem os membros mais frágeis da sociedade. 

O Reino de Deus não é deste mundo 

Voltando ao caso do Pr. Piragibe Jr., ele tem a Palavra de Deus a seu favor ao defender como "iniquidade institucionalizada" a possível aprovação legal de questões morais contrárias à Lei de Deus revelada na Bíblia. A tarefa da Igreja é defender os valores atemporais e transnacionais ensinados na Palavra de Deus.

Verdade seja dita, nada impede que cristãos sinceros e consagrados lutem contra as mazelas e problemas sociais e políticos do país em que vivem, exercendo suas atividades para a glória de Deus e o bem do próximo. Mas ele ou ela deve ter a consciência de que a agenda sócio-política não deve nem pode ser confundida com a agenda do Reino de Deus. Não existe uma ação sócio-política cristã, nem um candidato do coração de Deus, muito menos uma causa partidária a serviço do evangelho. Da mesma maneira que não existe uma medicina cristã, ou um mecânico do coração de Deus ou uma ação contábil a serviço do evangelho. Portanto, não confunda o evangelho com a política.

*Walter Dos Santos é um jornalista apaixonado por Cristo e pela literatura que mantém o Portal Escrivão Caminha (escrivaocaminha.blogspot.com). A reprodução deste texto é autorizada desde que seja mencionado este crédito.

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