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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Você conhece as 95 Teses de Lutero?

Martinho Lutero (1483-1546)
Há exatos 494 anos, em 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero publicou suas 95 teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, na Alemanha.  
Para levantar fundos para a construção da Basílica de São Pedro, em Roma, o Papa Leão X autorizou e mandou oferecer para venda indulgências, que eram declarações de perdão de pecados. Tetzel era o oficial designado para dirigir a venda das indulgências na Alemanha e, com grande desfaçatez, repetia as mais deslumbrantes falsidades e relatava histórias maravilhosas para enganar um povo ignorante, crédulo e supersticioso. Segundo o historiador da Reforma D'Aubigné, quando Tetzel chegava a uma cidade, um mensageiro o precedia anunciando: "A graça de Deus e do santo padre [o Papa] está às vossas portas!".  
Ao subir ao púlpito nas igrejas e nas praças, ele exaltava as indulgências como o mais precioso dom de Deus, declarando que todos os pecados que o comprador mais tarde quisesse cometer seriam perdoados e que "mesmo o arrependimento não é necessário" (D'Aubigné). Segundo outro historiador,  Hagenbach, o oficial designado para a Alemanha assegurava aos ouvintes que as indulgências tinham poder para salvar não somente os vivos mas também os mortos. E que, no mesmo instante em que o dinheiro chegava ao fundo de sua caixa, a alma pela qual era paga a indulgência escaparia do purgatório, ingressando no Céu.  
O monge agostiniano Lutero, ainda católico romano bastante fiel à sua igreja, ficou horrorizado com tais   blasfemas declarações e pregava do púlpito que apenas o arrependimento para com Deus e a fé em Cristo poderiam salvar o pecador. Ele aconselhava o povo a não comprar indulgências, mas a olhar com fé para um Redentor crucificado. Como mesmo assim Tetzel prosseguia com o comércio de indulgências, Lutero decidiu fazer um protesto mais eficaz contra tais abusos. Estava se aproximando a Festa de Todos os Santos (31 de outubro), em que a Igreja do Castelo de Wittenberg recebia multidões para contemplar relíquias e confessar os pecados. Na véspera, Lutero, reunindo-se às multidões que já seguiam para a igreja, afixou na porta um papel com 95 teses contra a doutrina das indulgências. Era esse o modo usual de se anunciar uma disputa, instituição regular da vida universitária e não havia nada de dramático no ato.  
O documento atraiu a atenção geral. As teses eram lidas e relidas, e repetidas de todos os lados, havendo grande alvoroço na universidade em que Lutero ensinava e na cidade inteira. Nelas, o monge alemão mostrava que o poder de conceder o perdão do pecado e livrar de sua pena jamais tinha sido confiado ao papa ou a qualquer outro homem; que o evangelho de Cristo é o mais valioso tesouro da igreja, e que a graça de Deus, nele revelada, é livremente concedida a todos os que a buscam com arrependimento e fé. As questões propostas por Lutero em poucos dias se espalharam por toda a Alemanha, e em poucas semanas repercutiram em praticamente toda a Europa cristã.  
Para comemorar o aniversário da Reforma, o Portal Escrivão Caminha traz abaixo a íntegra das 95 Teses de Lutero para que você também celebre a graça de Deus livremente oferecida em Jesus, resgatada pelo monge alemão no século XVI e proclamada nas igrejas protestantes mundo afora. – Walter Mendes


Cena do filme Lutero.
"Por amor à verdade e no empenho de elucidá-la, discutir-se-á o seguinte em Wittenberg, sob a presidência do reverendo padre Martinho Lutero, mestre de Artes e de Santa Teologia e professor catedrático desta última, naquela localidade. Por esta razão, ele solicita que os que não puderem estar presentes e debater conosco oralmente o façam por escrito, mesmo que ausentes. Em nome do nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.


1 Ao dizer: "Fazei penitência", etc. [Mateus 4:17], o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência.

2 Esta penitência não pode ser entendida como penitência sacramental (isto é, da confissão e satisfação celebrada pelo ministério dos sacerdotes).

3 No entanto, ela não se refere apenas a uma penitência interior; sim, a penitência interior seria nula, se, externamente, não produzisse toda sorte de mortificação da carne.

4 Por conseqüência, a pena perdura enquanto persiste o ódio de si mesmo (isto é a verdadeira penitência interior), ou seja, até a entrada do reino dos céus.

5 O papa não quer nem pode dispensar de quaisquer penas senão daquelas que impôs por decisão própria ou dos cânones.

6 O papa não pode remitir culpa alguma senão declarando e confirmando que ela foi perdoada por Deus, ou, sem dúvida, remitindo-a nos casos reservados para si; se estes forem desprezados, a culpa permanecerá por inteiro.

7 Deus não perdoa a culpa de qualquer pessoa sem, ao mesmo tempo, sujeitá-la, em tudo humilhada, ao sacerdote, seu vigário.

8 Os cânones penitenciais são impostos apenas aos vivos; segundo os mesmos cânones, nada deve ser imposto aos moribundos.

9 Por isso, o Espírito Santo nos beneficia através do papa quando este, em seus decretos, sempre exclui a circunstância da morte e da necessidade.

10 Agem mal e sem conhecimento de causa aqueles sacerdotes que reservam aos moribundos penitências canônicas para o purgatório.

11 Essa erva daninha de transformar a pena canônica em pena do purgatório parece ter sido semeada enquanto os bispos certamente dormiam.

12 Antigamente se impunham as penas canônicas não depois, mas antes da absolvição, como verificação da verdadeira contrição.

13 Através da morte, os moribundos pagam tudo e já estão mortos para as leis canônicas, tendo, por direito, isenção das mesmas.

14 Saúde ou amor imperfeito no moribundo necessariamente traz consigo grande temor, e tanto mais, quanto menor for o amor.

15 Este temor e horror por si sós já bastam (para não falar de outras coisas) para produzir a pena do purgatório, uma vez que estão próximos do horror do desespero.

16 Inferno, purgatório e céu parecem diferir da mesma forma que o desespero, o semidesespero e a segurança.

17 Parece desnecessário, para as almas no purgatório, que o horror diminua na medida em que cresce o amor.

18 Parece não ter sido provado, nem por meio de argumentos racionais nem da Escritura, que elas se encontram fora do estado de mérito ou de crescimento no amor.

19 Também parece não ter sido provado que as almas no purgatório estejam certas de sua bem-aventurança, ao menos não todas, mesmo que nós, de nossa parte, tenhamos plena certeza.

20 Portanto, sob remissão plena de todas as penas, o papa não entende simplesmente todas, mas somente aquelas que ele mesmo impôs.

21 Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgências do papa.

22 Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma única pena que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta vida.

23 Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a alguém, ele, certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é, pouquíssimos.

24 Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada por essa magnífica e indistinta promessa de absolvição da pena.

25 O mesmo poder que o papa tem sobre o purgatório de modo geral, qualquer bispo e cura tem em sua diocese e paróquia em particular.

26 O papa faz muito bem ao dar remissão às almas não pelo poder das chaves (que ele não tem), mas por meio de intercessão.

27 Pregam doutrina humana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando [do purgatório para o céu].

28 Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa, podem aumentar o lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas da vontade de Deus.

29 E quem é que sabe se todas as almas no purgatório querem ser resgatadas? Dizem que este não foi o caso com S. Severino e S. Pascoal.

30 Ninguém tem certeza da veracidade de sua contrição, muito menos de haver conseguido plena remissão.

31 Tão raro como quem é penitente de verdade é quem adquire autenticamente as indulgências, ou seja, é raríssimo.

32 Serão condenados em eternidade, juntamente com seus mestres, aqueles que se julgam seguros de sua salvação através de carta de indulgência.

33 Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem serem as indulgências do papa aquela inestimável dádiva de Deus através da qual a pessoa é reconciliada com Deus.

34 Pois aquelas graças das indulgências se referem somente às penas de satisfação sacramental, determinadas por seres humanos.

35 Não pregam cristãmente os que ensinam não ser necessária a contrição àqueles que querem resgatar ou adquirir breves confessionais.

36 Qualquer cristão verdadeiramente arrependido tem direito à remissão pela de pena e culpa, mesmo sem carta de indulgência.

37 Qualquer cristão verdadeiro, seja vivo, seja morto, tem participação em todos os bens de Cristo e da Igreja, por dádiva de Deus, mesmo sem carta de indulgência.

38 Mesmo assim, a remissão e participação do papa de forma alguma devem ser desprezadas, porque (como disse) constituem declaração do perdão divino.

39 Até mesmo para os mais doutos teólogos é dificílimo exaltar perante o povo ao mesmo tempo, a liberdade das indulgências e a verdadeira contrição.

40 A verdadeira contrição procura e ama as penas, ao passo que a abundância das indulgências as afrouxa e faz odiá-las, pelo menos dando ocasião para tanto.

41 Deve-se pregar com muita cautela sobre as indulgências apostólicas, para que o povo não as julgue erroneamente como preferíveis às demais boas obras do amor.

42 Deve-se ensinar aos cristãos que não é pensamento do papa que a compra de indulgências possa, de alguma forma, ser comparada com as obras de misericórdia.

43 Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências.

44 Ocorre que através da obra de amor cresce o amor e a pessoa se torna melhor, ao passo que com as indulgências ela não se torna melhor, mas apenas mais livre da pena.

45 Deve-se ensinar aos cristãos que quem vê um carente e o negligencia para gastar com indulgências obtém para si não as indulgências do papa, mas a ira de Deus.

46 Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem bens em abundância, devem conservar o que é necessário para sua casa e de forma alguma desperdiçar dinheiro com indulgência.

47 Deve-se ensinar aos cristãos que a compra de indulgências é livre e não constitui obrigação.

48 Deve-se ensinar aos cristãos que, ao conceder indulgências, o papa, assim como mais necessita, da mesma forma mais deseja uma oração devota a seu favor do que o dinheiro que se está pronto a pagar.

49 Deve-se ensinar aos cristãos que as indulgências do papa são úteis se não depositam sua confiança nelas, porém, extremamente prejudiciais se perdem o temor de Deus por causa delas.

50 Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa soubesse das exações dos pregadores de indulgências, preferiria reduzir a cinzas a Basílica de S. Pedro a edificá-la com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.

51 Deve-se ensinar aos cristãos que o papa estaria disposto - como é seu dever - a dar do seu dinheiro àqueles muitos de quem alguns pregadores de indulgências extraem ardilosamente o dinheiro, mesmo que para isto fosse necessário vender a Basílica de S. Pedro.

52 Vã é a confiança na salvação por meio de cartas de indulgências, mesmo que o comissário ou até mesmo o próprio papa desse sua alma como garantia pelas mesmas.

53 São inimigos de Cristo e do papa aqueles que, por causa da pregação de indulgências, fazem calar por inteiro a palavra de Deus nas demais igrejas.

54 Ofende-se a palavra de Deus quando, em um mesmo sermão, se dedica tanto ou mais tempo às indulgências do que a ela.

55 A atitude do papa é necessariamente esta: se as indulgências (que são o menos importante) são celebradas com um toque de sino, uma procissão e uma cerimônia, o Evangelho (que é o mais importante) deve ser anunciado com uma centena de sinos, procissões e cerimônias.

56 Os tesouros da Igreja, dos quais o papa concede as indulgências, não são suficientemente mencionados nem conhecidos entre o povo de Cristo.

57 É evidente que eles, certamente, não são de natureza temporal, visto que muitos pregadores não os distribuem tão facilmente, mas apenas os ajuntam.

58 Eles tampouco são os méritos de Cristo e dos santos, pois estes sempre operam, sem o papa, a graça do ser humano interior e a cruz, a morte e o inferno do ser humano exterior.

59 S. Lourenço disse que os pobres da Igreja são os tesouros da mesma, empregando, no entanto, a palavra como era usada em sua época.

60 É sem temeridade que dizemos que as chaves da Igreja, que lhe foram proporcionadas pelo mérito de Cristo, constituem este tesouro.

61 Pois está claro que, para a remissão das penas e dos casos, o poder do papa por si só é suficiente.

62 O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.

63 Este tesouro, entretanto, é o mais odiado, e com razão, porque faz com que os primeiros sejam os últimos.

64 Em contrapartida, o tesouro das indulgências é o mais benquisto, e com razão, pois faz dos últimos os primeiros.

65 Por esta razão, os tesouros do Evangelho são as redes com que outrora se pescavam homens possuidores de riquezas.

66 Os tesouros das indulgências, por sua vez, são as redes com que hoje se pesca a riqueza dos homens.

67 As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como as maiores graças realmente podem ser entendidas como tal, na medida em que dão boa renda.

68 Entretanto, na verdade, elas são as graças mais ínfimas em comparação com a graça de Deus e a piedade na cruz.

69 Os bispos e curas têm a obrigação de admitir com toda a reverência os comissários de indulgências apostólicas.

70 Têm, porém, a obrigação ainda maior de observar com os dois olhos e atentar com ambos os ouvidos para que esses comissários não preguem os seus próprios sonhos em lugar do que lhes foi incumbido pelo papa.

71 Seja excomungado e maldito quem falar contra a verdade das indulgências apostólicas.

72 Seja bendito, porém, quem ficar alerta contra a devassidão e licenciosidade das palavras de um pregador de indulgências.

73 Assim como o papa, com razão, fulmina aqueles que, de qualquer forma, procuram defraudar o comércio de indulgências,

74 muito mais deseja fulminar aqueles que, a pretexto das indulgências, procuram defraudar a santa caridade e verdade.

75 A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes ao ponto de poderem absolver um homem mesmo que tivesse violentado a mãe de Deus, caso isso fosse possível, é loucura.

76 Afirmamos, pelo contrário, que as indulgências papais não podem anular sequer o menor dos pecados veniais no que se refere à sua culpa.

77 A afirmação de que nem mesmo S. Pedro, caso fosse o papa atualmente, poderia conceder maiores graças é blasfêmia contra São Pedro e o papa.

78 Afirmamos, ao contrário, que também este, assim como qualquer papa, tem graças maiores, quais sejam, o Evangelho, os poderes, os dons de curar, etc., como está escrito em 1 Coríntios 12.

79 É blasfêmia dizer que a cruz com as armas do papa, insignemente erguida, equivale à cruz de Cristo.

80 Terão que prestar contas os bispos, curas e teólogos que permitem que semelhantes conversas sejam difundidas entre o povo.

81 Essa licenciosa pregação de indulgências faz com que não seja fácil, nem para os homens doutos, defender a dignidade do papa contra calúnias ou perguntas, sem dúvida argutas, dos leigos.

82 Por exemplo: por que o papa não evacua o purgatório por causa do santíssimo amor e da extrema necessidade das almas - o que seria a mais justa de todas as causas -, se redime um número infinito de almas por causa do funestíssimo dinheiro para a construção da basílica - que é uma causa tão insignificante?

83 Do mesmo modo: por que se mantêm as exéquias e os aniversários dos falecidos e por que ele não restitui ou permite que se recebam de volta as doações efetuadas em favor deles, visto que já não é justo orar pelos redimidos?

84 Do mesmo modo: que nova piedade de Deus e do papa é essa: por causa do dinheiro, permitem ao ímpio e inimigo redimir uma alma piedosa e amiga de Deus, porém não a redimem por causa da necessidade da mesma alma piedosa e dileta, por amor gratuito?

85 Do mesmo modo: por que os cânones penitenciais - de fato e por desuso já há muito revogados e mortos - ainda assim são redimidos com dinheiro, pela concessão de indulgências, como se ainda estivessem em pleno vigor?

86 Do mesmo modo: por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos mais ricos Crassos, não constrói com seu próprio dinheiro ao menos esta uma basílica de São Pedro, ao invés de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis?

87 Do mesmo modo: o que é que o papa perdoa e concede àqueles que, pela contrição perfeita, têm direito à remissão e participação plenária?

88 Do mesmo modo: que benefício maior se poderia proporcionar à Igreja do que se o papa, assim como agora o faz uma vez, da mesma forma concedesse essas remissões e participações 100 vezes ao dia a qualquer dos fiéis?

89 Já que, com as indulgências, o papa procura mais a salvação das almas do que o dinheiro, por que não suspende as cartas e indulgências outrora já concedidas, se são igualmente eficazes?

90 Reprimir esses argumentos muito perspicazes dos leigos somente pela força, sem refutá-los apresentando razões, significa expor a Igreja e o papa à zombaria dos inimigos e desgraçar os cristãos.

91 Se, portanto, as indulgências fossem pregadas em conformidade com o espírito e a opinião do papa, todas essas objeções poderiam ser facilmente respondidas e nem mesmo teriam surgido.

92 Fora, pois, com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo: "Paz, paz!" sem que haja paz!

93 Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo: "Cruz! Cruz!" sem que haja cruz!

94 Devem-se exortar os cristãos a que se esforcem por seguir a Cristo, seu cabeça, através das penas, da morte e do inferno;

95 e, assim, a que confiem que entrarão no céu antes através de muitas tribulações do que pela segurança da paz.

1517 A.D."
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Tua Palavra - O Evangelho em Canção

por Walter Mendes*


O segundo grande princípio da Reforma que pretendemos abordar é o papel central e autoritativo da Bíblia na fé protestante – o SOLA SCRIPTURA, que significa "SOMENTE A BÍBLIA" em latim. Os católicos acreditam que a Palavra de Deus está contida tanto na Bíblia em si quanto na Tradição, e que apenas o Magistério da Igreja (isto é, os bispos em comunhão com o Papa) podem interpretá-la de forma autêntica. Na prática, isso significa que a Bíblia não é o fundamento primário nem o árbitro final para estabelecer as doutrinas na Igreja Católica, bem como que que os leigos (os que não são sacerdotes) não podem nem sabem interpretar a Bíblia devidamente.

O protestante, por outro lado, defende a Bíblia como única regra de fé e prática. Isso quer dizer que a Bíblia É – não contém – a Palavra de Deus, e que todo o conhecimento necessário para a salvação e a santidade é encontrado em suas páginas. Assim, o Sola Scriptura exige como válidas apenas as doutrinas que são encontradas diretamente nas Escrituras com um claro "Assim diz o Senhor" ou encontradas indiretamente nela – usando dedução lógica válida ou raciocínio dedutivo válido a partir das Escrituras. 

O Sola Scriptura não é uma negação de outras autoridades na vida cristã da Igreja e dos crentes. Dependendo da denominação protestante, outras fontes de autoridade religiosa – como a Tradição, a experiência e a razão – podem ser utilizadas para apoiar e formular este ou aquele ponto de doutrina ou prática. Mas o Sola Scriptura, adotado em todo o protestantismo, exige que todas as outras autoridades estejam subordinadas à Bíblia e devam ser corrigidas por ela. 

Os protestantes defendem esse princípio pelas seguintes razões:
  • Os escritores bíblicos viam as Escrituras como situando-se numa categoria única, distinta e separada de toda a literatura restante. Eles se referiram à Bíblia como as "Sagradas Escrituras" (Romanos 1:2), "sagradas letras" (2 Timóteo 3:15) e "oráculos de Deus" (Romanos 3:2; Hebreus 5:12).  O apóstolo Paulo que "toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino" (2 Timóteo 3:16). A palavra grega theopneustos, aqui traduzida como "inspirada", significa literalmente "soprada por Deus". Deus "inspirou" a verdade nas mentes dos homens, os quais expressaram estas mesmas verdades em suas próprias palavras, que foram consolidadas nas Escrituras. E, no sentido de que Ele inspirou os escritores, Deus é o Autor da Bíblia.   
  • Deus o Espírito Santo é apontado como a fonte e orientação dos escritos bíblicos: "Antes de mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo" (2 Pedro 1:20-21, NVI). Apesar de Ele tenha usado diferentes maneiras para Se revelar aos 40 escritores bíblicos: observação pessoal, informação oral, fontes escritas ou revelação direta. De forma significativa, podemos apontar os casos de Davi e de Paulo para mostrar o papel da inspiração divina na produção, respectivamente, do Antigo e do Novo Testamentos. Davi declarou: "O Espírito do Senhor fala por meu intermédio, e a Sua palavra está na minha língua" (2 Samuel 23:2) e Paulo, escrevendo aos crentes de Tessalônica, afirmou: "tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como palavra de homens, e sim como, em verdade é, a palavra de Deus" (1 Tessalonicenses 2:13). Por vezes a figura do autor humano desaparece completamente, e apenas o verdadeiro autor – o Santo Espírito – passa a falar: "Assim, pois, como diz o Espírito Santo"; "querendo com isto dar a entender o Espírito Santo..."; "Ora, o Espírito afirma expressamente que..."(Hebreus 3:7; 9:8; 1 Timóteo 4:1).  
  • O Salvador Jesus sempre utilizava a Bíblia como autoridade final, quer estivesse sendo tentado por Satanás, quer estivesse debatendo-Se com os oponentes. "Está escrito", "Que está escrito na lei?", "Nunca lestes nas Escrituras?" foram expressões que Ele utilizava tanto com propósitos defensivos quanto de ataque (Mateus 4:4,7,10; 21:42; Marcos 12:10,26; Lucas 20:17). Ele situou a Bíblia acima das tradições e opiniões humanas, reprovando os líderes judeus pelo fato de eles se desviarem da autoridade das Escrituras (Marcos 7:7-9). Cristo aceitou sem qualquer reserva as Escrituras Sagradas como sendo a revelação autorizada da vontade de Deus em relação à raça humana, endossando tanto os livros em si quanto as histórias do Antigo Testamento (Mateus 23:34-35 e Lucas 24:25-27; Mateus 12:39-41; 19:4-6; 24:37-39; João 6:31-32). Finalmente, Ele nos convida para pesquisarmos as Escrituras, nos tornarmos familiarizados com Ele e alimentarmos de Sua Palavra: "Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam" (João 5:39) e "Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus" (Mateus 4:4).
A fé protestante celebra e proclama a Bíblia como fundamento e tribunal de todas as doutrinas e práticas, como o Livro em que Deus revela Seu plano para nós e testemunha Sua ação e interação com a raça humana. Para esse princípio escolhi 2 canções simples, mas ultra-conhecidas entre os evangélicos, que ilustram bem o lugar da Bíblia na devoção protestante: 

Michael W. Smith e Amy Grant - Thy Word (Tua Palavra)

Aline Barros - Tua Palavra

Ambas as músicas usam os belos versos do Salmo 119:105 ("Lâmpada para os meus pés é a Tua Palavra, e luz para os meus caminhos"). A Bíblia é um livro sagrado (isto é,  separado para fins religiosos, não sendo profano ou comum), mas não é um talismã doméstico, não é um código de regras, nem livro de auto-ajuda. Seu poder, sua autoridade e sua capacidade de inspirar vêm do Seu autor - um Deus amoroso que Se interessa pelo nosso bem-estar ao ponto de ter escrito essa carta para nós. E eu o convido a você também ler, estudar e aplicar a Bíblia em sua vida. Mas acima de tudo a entregar sua vida ao Autor da Bíblia e a amá-Lo cada vez mais ao ouvir Sua voz em Sua Palavra. Esse é o Evangelho em canção.

Leia também: In Christ Alone – O Evangelho em Canção

*Walter Mendes é um jornalista apaixonado por Cristo e pela literatura que mantém o Portal Escrivão Caminha (escrivaocaminha.blogspot.com). A reprodução deste texto é autorizada desde que seja mencionado este crédito.

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sábado, 8 de outubro de 2011

In Christ Alone - O Evangelho em Canção

*Walter Mendes 


Em 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero publicou suas 95 teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. Naquele documento o reformador alemão protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica, propondo uma volta ao ensino puro e simples da Palavra de Deus. Como resultado, nasceu o movimento protestante: um conjunto de igrejas e denominações cristãs que pregam a justificação pela graça mediante a fé somente, o sacerdócio de todos os crentes e a Bíblia como única regra em matéria de fé e prática. Para comemorar o Aniversário da Reforma,  o Portal Escrivão Caminha traz este mês algumas canções evangélicas centradas nos dois grandes princípios da fé protestante.

O primeiro princípio que queremos abordar é o lugar privilegiado e exclusivo que Jesus ocupa na fé protestante – o SOLUS CHRISTUS, que significa "SOMENTE CRISTO" em latim. Os católicos confiam na suposta intercessão e méritos de Maria, mãe de Jesus, dos inumeráveis santos, além do próprio Jesus para ajudar na sua salvação eterna no mundo vindouro e na sua caminhada neste mundo presente.


O protestante, por outro lado, confia somente em Cristo, pois a Bíblia ensina que:


  • Jesus é o "Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (João 1:29 cf Isaías 53:4-7); 
  • Jesus é o dom de Deus para nossa salvação – "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3:16);
  • Jesus é o ÚNICO CAMINHO para irmos a Deus, segundo Ele Mesmo disse – "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim" (João 14:6, NVI);
  • Jesus é o ÚNICO NOME a ser invocado para conseguir a salvação – "E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos" (Atos 4:12);
  • Jesus é o ÚNICO MEDIADOR que intercede junto Deus em nosso favor – "Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus" (1 Timóteo 2:5, NVI);
  • Jesus é o ÚNICO ADVOGADO disponível para apresentar nossas causas a Deus – "Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo" (1 João 2:1).


A fé protestante proclama que Jesus é único, suficiente e perfeito em Sua pessoa e em Sua obra para nossa salvação no mundo vindouro e para nosso bem-estar neste mundo presente, conforme podemos ver nas palavras da música "In Christ Alone" (Só em Jesus, numa tradução livre):

Avalon – In Christ Alone


In Christ Alone,
Letra: Stuart Townend e Keith Getty
Somente em Cristo,
Tradução livre: Walter Mendes
In Christ alone my hope is found
He is my light, my strength, my song
This Cornerstone, this solid ground
Firm through the fiercest drought and storm
What heights of love, what depths of peace
When fears are stilled, when strivings cease
My Comforter, my All in All
Here in the love of Christ I stand

In Christ alone, who took on flesh
Fullness of God in helpless babe
This gift of love and righteousness
Scorned by the ones He came to save
'Til on that cross as Jesus died
The wrath of God was satisfied
For every sin on Him was laid
Here in the death of Christ I live

There in the ground His body lay
Light of the world by darkness slain
Then bursting forth in glorious Day
Up from the grave He rose again
And as He stands in victory
Sin's curse has lost its grip on me
For I am His and He is mine
Bought with the precious blood of Christ

No guilt in life, no fear in death
This is the power of Christ in me
From life's first cry to final breath
Jesus commands my destiny
No power of hell, no scheme of man
Can ever pluck me from His hand
'til He returns or calls me home
Here in the power of Christ I'll stand
Somente em Cristo está minha esperança
Ele é minha luz, minha força, minha canção
Esta Pedra de Esquina, este sólido chão
Firme em meio à mais feroz seca ou tempestade
Que elevado amor, que profunda paz
Quando os medos param, quando os esforços cessam
Meu Confortador, meu Tudo em Tudo
Firme no amor de Cristo eu permaneço

Somente em Cristo, que Se encarnou
O pleno Deus num indefeso bebê
Este dom do amor e da justiça
Desprezado por aqueles a quem veio salvar
Até naquela cruz enquanto Jesus morria
A ira de Deus foi satisfeita
Por todo pecado que sobre Ele foi colocado
Firme na morte de Cristo, eu vivo

Naquele chão Seu corpo está
Luz do mundo morta pela escuridão
Mas ressurgiu no glorioso Dia
Da tumba Ele Se reergueu
E enquanto Ele continuar vencedor
A maldição do pecado não vai me derrotar
Pois eu sou Seu e Ele é meu
Comprado com o precioso sangue de Cristo

Vivo sem culpa, morrerei sem medo
Este é o poder de Cristo em mim
Do primeiro choro ao último suspiro
Jesus é o Senhor do meu destino
Nem o poder do inferno, nem a trama dos homens
Jamais poderão me arrancar das Suas mãos
Até que Ele volte ou me chame ao Lar
Firme no poder de Cristo permanecerei

Essa é uma canção americana escrita em 2002 por Stuart Townend e Keith Getty durante um evento de adoração e apresenta em belíssimos versos a vida, morte e ressurreição do Senhor Jesus, bem como os benefícios trazidos pelo Salvador à vida dos que creem em Seu nome.


Você pode confiar SOMENTE EM CRISTO – em Sua vida sem pecado, Sua morte na cruz, Sua ressurreição ao terceiro dia e Sua intercessão perante Deus. Este é o Evangelho em canção.


Leia também: Tua Palavra – O Evangelho em Canção

*Walter Mendes é um jornalista apaixonado por Cristo e pela literatura que mantém o Portal Escrivão Caminha (escrivaocaminha.blogspot.com). A reprodução deste texto é autorizada desde que seja mencionado este crédito.
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