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quinta-feira, 9 de julho de 2015

Sobre o resultado da ordenação de mulheres

Público presente na Conferência Geral 2015
por Walter Mendes

Foi votada ontem (8/07/2015) a ordenação de mulheres ao pastorado na 60a Conferência Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. Por 1381 votos contra, 977 a favor e 5 abstenções, os delegados da Igreja mundial decidiram que as divisões (os escritórios continentais da denominação) não devem fazer provisões para que mulheres sejam ordenadas ao ministério pastoral.

Gostaria de tecer alguns comentários sobre os debates e votação de ontem neste post, mas preciso, antes de mais nada, fazer alguns esclarecimentos:

1. Não estou faltando com a ética ao fazer os comentários e observações abaixo, nem estou vazando quaisquer informações secretas. A assembleia da Conferência Geral é e sempre foi aberta ao público, além de estar sendo divulgada de forma oficial e ao vivo pela administração da Igreja.

2. As observações abaixo não têm relação  com minha opinião a favor da ordenação de mulheres. Se o voto final tivesse sido igual ao meu desejo, ainda assim as observações seriam as mesmas.

3. Creio na Igreja Adventista do Sétimo Dia como meu lar na família de Deus. Mas sou forçado a reconhecer o comentário de um pastor amigo meu: apenas um milagre de Deus vai terminar a pregação do evangelho para estarmos em pé no Advento do Rei.

NÃO FIZERAM A LIÇÃO DE CASA
Eu acompanhei ontem à tarde o período de discussões anterior à votação e foi algo deprimente. Os delegados mundiais claramente não leram nem estudaram o relatório de 120 páginas preparado pela comissão que estudou as 3 propostas (sim, não, cada divisão decide). Existe uma cultura da ignorância (mais importante é evangelizar, não perder tempo com estudos e discussões) muito perigosa em nossa Igreja. Um fato que provoca a existência de membros sem firmeza alguma no estudo e interpretação da Bíblia. E isso explica, em parte, a imagem do balde furado usada em um relatório desta Conferência: nós ganhamos muitos membros para a Igreja ano após ano, mas perdemos quase o mesmo número de adeptos pela apostasia ano após ano.

O (DES)CASO DA AMÉRICA DO SUL
Nenhum delegado ou oficial da Divisão Sul-Americana soltou uma palavra sequer sobre o assunto durante as discussões, tanto no plenário da Conferência Geral quanto em suas contas oficiais no Twitter. Algo bem diferente da representação de outros continentes e regiões, que participaram e contribuíram bastante (às vezes até demais) durante as discussões. Falta de domínio do inglês, falta de estudo da matéria, falta de colhões para ser fiel 'como a bússola o é ao polo'? Faltam explicações e respostas.

MACHO MAN
Não adianta negar: existe um ranço de machismo muito forte na nossa Igreja. Biologia, não teologia, parece dar automaticamente sabedoria e talento para cuidar das coisas de Deus. (Os argumentos ontem para o NÃO giraram em torno da ideia de que a mulher não precisa ser ordenada para fazer o que já faz...) Isso foi visível inclusive no microfone de discussões da Conferência Geral, em que se viu e ouviu dezenas e dezenas de homens e apenas 2 mulheres indo à frente para discutir a ordenação de mulheres...

MEDO E VERGONHA
Sério, tenho medo e vergonha de ser adventista muitas vezes. E ontem foi uma dessas ocasiões, quando percebi que a liderança da Igreja ao redor do mundo sabe tanto quanto ou até menos de Bíblia, Ellen G. White, história do Cristianismo, interpretação de texto, tolerância e empatia, argumentação e lógica do que os membros pobres e sem estudo de igrejas da periferia e interior. Vários delegados contra e favor da ordenação ameaçaram sutilmente ou não que abandonariam a Igreja se o voto final não fosse conforme o que eles desejavam.

PONTOS 'ALTOS' DO DEBATE
Um delegado americano a favor da ordenação falou na cara dura que a América do Norte tem menos membros, mas tem mais dízimo. Uma delegada contra a ordenação sugeriu que a discussão fosse aberta apenas para os que votariam. Um delegado contra disse que Jesus era a verdade e Ele nunca ordenou mulheres, esquecendo-se que o Salvador nunca ordenou ninguém, nem homens, nem mulheres. Um delegado a favor lembrou que os irmãos da África e da Ásia deveriam respeitar a cultura da América do Norte e Europa, pois a Igreja respeitou a cultura da África e da Ásia ao permitir e tolerar a poligamia - sim, poligamia - nesses lugares por razões culturais.

A VOZ DO POVO É A VOZ DE DEUS?
A maioria votou e a questão foi decidida: "é a vontade do Senhor!". Doze espias votaram e 10 foram contra a tomada da Terra Prometida no tempo de Josué e Calebe. A nação inteira votou e escolheu um rei sobre Israel no tempo de Samuel. A multidão votou na sexta-feira e escolheu Barrabás em vez de Jesus. A história sagrada deveria mostrar que a decisão da maioria não significa necessariamente "a vontade de Deus".

PONTOS NOS IS
Que fique bem claro: o voto ontem não foi sobre mulheres pastoras (elas já existem e continuarão a existir), nem sobre ordenar mulheres (diaconisas já são ordenadas). O voto de ontem foi sobre ordenar mulheres pastoras (o que não existe ainda e não vai existir por alguns anos). A Igreja Adventista do Sétimo Dia faz diferença entre "pastores comissionados" (caso das mulheres) e "pastores ordenados" (caso dos homens, com o ritual da imposição de mãos).

VAI TER MULHERES PASTORAS SIM
A Igreja na América do Norte divulgou nota nesta madrugada em sua página do Facebook. Embora respeitem a decisão da Igreja mundial, eles vão continuar a ter mulheres pastoras e pretendem dobrar o número delas nos próximos anos para poder evangelizar seu território. Rebeldia? Não! A Igreja Adventista do Sétimo Dia tem 320 pastoras nos EUA, Holanda, Alemanha e China e elas vão continuar existindo depois da Conferência Geral de 2015.
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